auto-retrato





Giz-pastel-seco-tinta-guache-vermelha-lápis-seis-bê-dois-bê-agá-bê-borracha-papél-duro-amarelado-a-três-ofê-séte-a-quatro-espelho-sofá-auto-retrato-cuerdas-del-sur-me-deliciando-com-Ausência-e-Charleston-e-Swingando-En-El-Subte: auto-retrato.

Assim, numa quinta-feira fria (muito, muito fria) e solitária (muito, muito solitária) fui, não gratuitamente, claro (“desenho criador”, da pós), de encontro a mim mesma. Assim, sem poder de decisão, numa quinta-feira fria eu e um espelho buscando a essência, o verdadeiro tom dos olhos, o verdadeiro desejo da boca, a verdadeira vontade do cabelo que não sabe se é loiro, castanho ou vermelho. Eu ali, oferenda pra mim, desconhecendo a altura do nariz, o lado certo do piercing, a vontade do traço.

Eu, com medo de mim mesma, primeiro ousando descobrir-me com lápis e muita, muita borracha. Medidas. Proporções. Fotografias. Poderia ter pego uma, ampliado, impresso e redesenhado. Mas não, eu quis buscar na matriz, quis descobrir as curvas nunca antes visitadas por mim mesma. Ali, eu, o espelho, o lápis, o traço medroso buscando o auto-retrato.

Nossa, sou tão feia assim? Até que o nariz é bonitinho, e a boca vermelha parece de boneca de porcelana mesmo. Malditos cabelos indefinidos, malditos olhos sempre entre o verde-e-o-castanho. Benditos olhos que não repetem tons. Como eu gosto dos meus óculos. E olha a minha cor?! Nem é branca... É de um rosa pálido, um rosa antigo, um rosa de papel de parede gasto.

Livre, e de repente já tinha trocado o sofá pelo chão, o lápis pelo pastel, o medo pelo ritmo da música, as medidas pelos exageros, os limites pela tinta no chão. Eis-me. Assim. Auto-retratada. Talvez diferente de tudo que eu pareça para o mundo, mas exatamente como me conheci hoje.

O verde no fundo, não pelo passado, não pela esperança que pouca – ou nenhuma – gente sabe que ele representa, mas porque combina com o vermelho tímido da minha boca, que não sorri, mas não é triste.


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