diálogos

Quarta-feira, seis de junho de dois mil e sete, véspera de feriado, vinte e dois graus na província de Passo Fundo, sete e trinta e cinco da noite, festa junina da universidade.

C – então, essa é a Carla, de Santa Maria... que eu tinha te falado...
A – ahh, claro, dae, beleza, Carla?
B – Certinho... e tu?
A – beio gribado, essa budança de demberatura...
B – Pois é, quem vai entender... então tu estuda música?!
A – bois é, eu dento.
B – hehe, legal...
A – e tu é bublicitária?
B – bois é, bou ali buscar um abendoín.

(não agüentei, desculba, gente).

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C – então, essa é a Carla, de Santa Maria... que eu tinha te falado...
D – a guria que não gosta de Passo Fundo?
B – Bah, já fez a minha caveira, guria... hehehe. Veja bem, não é que eu não goste da cidade, o problema é a população.
D – o.O
B – digo, uma grande parte da população...
D – sim... pois é, vamo ali pega um quentão?!
B – bah, trabalho amanhã, mas vamo...
D – Mas no feriado? Ah, tu trabalha na...
B – Tem um monte de trabalho, e tava querendo sair mais cedo na sexta, então...
D – Ah sim, vai pra casa?
B – Não, vou pra casa de um amigo.
D – Humn, um amigo?
B – É, um amigo... gosto de viajar mesmo...
D – Dois quentões bem quentes, por favor.
O – pra já, guri.
B – engraçadinho você, heim?! Hehe...
D – A gente tenta... Mas e aí, vai ficar na cidade até quando?
B – pois é, os planos eram de ficar até setembro do ano que vem, quando terminasse a especialização, é que eu to fazendo especialização e tal aqui na UFP... Mas essa cidade é tão fria que acho que vou diminuir a minha estada... to adiantando os planos de estudo pra ver se termino até o final do ano... tava com uns planos pessoais por aí tbem...
D – Ah, vai casar?
B – ta loco?! Hehehe... nah... nem.
D – e então?! Planos pessoais?!
B – ah, sei lá, tu não tem planos do tipo: “dominar o mundo”?
D – não, não tenho...
B - ...
D – que foi?
B – não... tu é a segunda pessoa em menos de um mês que me faz sentir antiquada...
D – perae, não foi a...
B – Agora eu vou falar, e tu vai ouvir. Ó, eu nem te conheço e to cansada de tentar ser simpática sempre e sempre levar os caroços na goela. Escuta bem. Eu quero voar por aí, sabe? Não sei ainda como vai ser. Se vai ser lavando pratos, se vai ser pintando paredes, se vai ser fazendo cursos, se vai ser degustando cervejas, se vai ser de vagabunda, de mãos dadas, de carona. Entende? Eu vou por aí, “acertando as contramãos”. A cartomante disse, e foda-se se você não acredita. Eu não acredito em nada que não posso ver e tocar, mas gosto dessas mentirinhas que me dão ilusõesinhas gostosas. E sabe o que? Foda-se se você não gosta. E sabe o que mais? Eu vim aqui porque ando me achando muito chata e ausente de gente, e ando muita chata com os meus queridos... Essa coisa de ter teus amigos só virtualmente acaba te secando, sabe?! É foda tu ter uma pessoa só numa cidade, sabe?! A gente nunca sabe até onde essa pessoa vai estar do nosso lado... Os teus amigos lá, das raízes, nem tão aí, sim, pensam em ti, mas tem a vida deles, sabe? Não cabe a ti ficar incomodando eles e tal... cada um tem a sua vida. E eu, poxa, eu to cansada de ter que ficar controlando os meus resmungos e as minhas vontades, sabe?! Éééé, eu quero viajar no final de semana, quero ter um sábado/domingo loucos, quero pó e quero farra, sabe? Quero colo e quero poder chorar e rir e fazer cócegas e receber cócegas e olhar estrelas e inventar poemas e fumar os doces cigarros de cravo e tomar vinhos e ouvir histórias tristes e contar histórias felizes e mostrar as caricaturas que eu fiz e contar dos livros que eu li e ouvir roteiros de filmes que não assisti e mostrar as fotos da enciclopédia sexual que ganhei da minha mãe com 12 posições detalhadas e quero não ter hora pra acordar e nem pra ir embora, tu entende?
D – bah, massa.
B – Massa? TU acha massa essa vida amarrada?
D – É, massa... Tipo, sei lá, tu tem histórias. Me disseram que tu já viajou, que trabalha com cinema e tal e é toda corajosa assim, tipo, falando assim comigo sem nem saber meu nome...
B – ehehe, desculpa, qual é teu nome?
D – pega aí meu cartão, tem o msn também, se quiser me adicionar...
B – ah, beleza, adiciono sim... ó, desculpa o desabafo assim... é que...
D – ó, imagino que deve estar foda. Ta afim de ir ali na pescaria?
B – bah, eu só pesco porcarias...
D – quem sabe tu não me pesca?
B – bobo... hehehe. Vou pescar uma pulseirinha pra ti.


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B – gay... massa! eu tava sentindo falta dos meus amigos gays.
D – pois é cara, tu não tinha percebido? Achei que tinha quando falou da pulseirinha.
B – hehe, não. Não tinha conhecido de perto nenhum ainda aqui no Passo Fundo. E tiro sarro com todo mundo mesmo...
D – e lá em Santa, come que ta a coisa?
B – ah, tem um monte, uns queridos... olha no meu orkut, se gostar de algum eu faço os contatos! Hehehe
D – aiii, que óóóótemo!!
B – bueno, vou indo que trabalho amanhã, tu vai até o centro?
D – é, to de carro, quer uma carona?
B – perfeito!


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Mais tarde, na farmácia...

H – pra senhora, moça?
B – humn, eu não sei se existe, existe algum tipo de hormônio masculino?
H – como assim, hormônio masculino?
B – ah, alguma coisa que eu tome e comece a produzir espermatozóides.
H – heim?! Tu ta tirando sarro com a minha cara?!
B – é, to... na verdade quero aquela injeção contraceptiva. Esses preservativos aqui e dois clorets.
H - a injeção só aplicamos de manhã...
B – tem efeito em quanto tempo?
H – ah, isso tem que ver com a farmacêutica, só de manhã.
B – me dá uma caixa de Diane, então. Aliás, tem algum mais barato?
H – tem, esse aqui dos laboratórios X...
B – e é bom?
H – Olha, vende bastante...
B – e como anda a taxa de natalidade em Passo Fundo?!
H – qualé teu problema, moça?!
B – eu preciso dizer...
H – namorado?!
B – nah, pior.
H – qual?!
B – tu vai me ajudar?!
H – dependendo... (e deu uma piscadinha)
B – ah, váh se foder.

Comentários

-~- disse…
huauhahuauhuhaa muito boa a da farmácia...


ei! ta chovendo meninos ai então é!