Sonho.


Passo Fundo, 01 de junho de 2007.



Saiba que pensei muito antes de descrever àquela nossa última noite... Pensei tanto que achei justo que soubesse que nada planejei, que nada esperava, que nada arrependi.
Infelizmente não pude ir na cerimônia de premiação, mas soube que o vento-norte afinal e merecidamente soprou pro teu lado. Te juro que sorri da mais pura felicidade e queria te abraçar daquele jeito que a gente fazia por felicidade ou tristeza, sem falar nada. Mas não podia, não devia, não precisava, não merecíamos. Então estava do meu jeito de sempre, com meus olhos nos filmes alheios, minha cabeça querendo dormir, minha presença sendo quase obrigatória para manter algo que... enfim. Estava lá, e o telefone tocou, e era você! Do jeito de sempre, como se os meses não tivessem fugido, como se meus cabelos não estivessem mais curtos e meus vícios não estivessem maiores. E você me falou da festa, e me falou do prêmio, e me falou de como estava feliz e disse que em cinco minutos me queria lá pra brindar e comemorar e que sim eu podia levar quem eu quisesse desde que dançasse contigo aquela nossa música de honra que eu pensei que você jamais lembraria o nome. E sim, é claro que fui. É claro que fomos com os nossos bótons, poás, all stares vermelhos velhos. Claro que fomos e claro que foi tão natural como se nada, nada eu tivesse chorado e morrido desde que parti. E ao chegar te vi do outro lado com a cerveja na mão, os cabelos nos olhos, o braço pra cima discursando alguma coisa que com certeza eu já tinha ouvido... eu ri e fiquei ali, parada, paradinha de mãos dadas com meu par de all star velho no chão. E foi aí que você me viu e veio atravessando o salão sem olhar pra nenhum lado e só me disse minha querida como você está diferente e eu ri baixinho e então você cumprimentou o meu all star velho que foi buscar uma cerveja. E ficamos nos olhando e rindo como na penúltima vez que estivemos juntos sem saber o que falar e então te cumprimentei pelo prêmio e tu me cumprimentou pelos prêmios do planalto, pelo cabelo novo, pelo all star novo, pela especialização, pela mostra, pelo último artigo publicado e eu não podia falar nada porque me sentia invadindo espaço. E você ainda com a mania de tocar e esbarrar e cuspir e tudo mais e me dizendo que eu não deveria fumar mas que eu estava ótima e tudo mais e eu dizendo que sim que sabia que estava ótima e tudo mais, mas na verdade eu queria que você visse que não é bem assim, que nada nada está ótimo e que tudo tudo é invenção minha e que dói e dói a tua ausência e as minhas barreiras são tão doces que derretem com qualquer olhar teu.... e queria correr, e sair dali e queria ficar e ficar pra sempre ao lado teu... porque meu bem, ah meu bem...

Só que ela estava lá, do outro lado, olhando pra mim e deixando, deixando você ali porque sim ela estava segura de tudo e não precisava temer meus cabelos novos, meus títulos, meu cheiro porque afinal ele nem era importante pra você. Mas ela bem sabia qual era, ah sim, ela bem sabia... e eu bem sabia, eu bem sabia do cheiro teu que não era bom, mas era teu, teu.

E meu all star vermelho velho e charmoso voltou e me levou pra dançar e te perdi na multidão. E tu me perdeu nos braços dele. E eu me perdi nos braços dele e chorei, chorei, chorei por mais três dias e três noites por não suportar a dor de saber, saber tudo e não poder fazer nada por nós dois. Por nós três. Por nós quatro.

Chorei só mais três dias e então sequei, pra sempre.

Comentários

Anônimo disse…
ai