Carlotta - O Retorno II

Era exatamente uma hora da tarde quando pensou em ficar nostálgica. Sabe que era exatamente uma hora da tarde porque foi o momento exato em que fechou o notebook e levantou os olhos para a sala do chefe. Pensou em ficar nostálgica porque não havia ficado desde o dia que havia decidido partir. Até conseguiu quando pensou que agora não teria mais uma casa só dela nem domingos onde esmurrava o próprio coração pra fazer poesia. Mas logo passou e não conseguiu recuperar sequer um instante de nostalgia. Diferente da última vez em que partira levando consigo todas as memórias da cidade e das pessoas, agora só no que pensava era em atravessar logo aquela avenida de três partes e construções de mau gosto e encontrar a família, a velha casa e a nova mudança.

Uma nova mudança aconteceu.
Ela voltou mais madura. Menos encantada. Talvez mais forte. Menos deslumbrada. Muito mais serelepe. Menos simpática. Mais dura. Mais encouraçada. Até mais cruel, eu acho. Voltou com menos cabelos e mais peso. Com mais livros e mais causos. Com um novo ex-chefe e um novo futuro-trabalho. Voltou com mais sonhos e menos promessas. Voltou mais ela. Menos eles. Voltou, de novo. E vai ficar pra sempre. Pra sempre até que chegue a hora de partir.

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