Ocupações. Quando pensei que carregava lacunas demais resolvi preencher-me. Ocupar-me inteira com qualquercoisaquefosse para não me deixar assim, como estou agora, sozinha comigo mesma, vazia. Me olho e não me vejo, não me quero ver, não me quero. Aí chegamos ao ponto das minhas últimas discussões: medo. Não me suporto. Não agüento essas paredes cheias de todas essas coisas que guardam pedaços de tudo o que eu já queria ter sido e até fui e não fui um dia. Retalhos de sonhos, manchas de caneta, verde. O tudo aqui na volta sufoca. O tudo que é nada, você entende? Então resolvi ocupar-me inteira e não ficar só um instante que fosse. No banho, no banho eu penso em cobrir o ralo e sentar no chão, só pra ver até quando as paredes de acrílico do box irão suportar toda a água que vai me envolver e me acalmar. O peso, o peso da água que cai é bom. Mistura lágrimas a ela, mistura a vermelhidão dos olhos aos cabelos. Espuma que deixo arder, esponja que aperto e esfrego para tirar qualquer coisa impregnada de outro que não sou eu nesse meu corpo disforme. Nada. Mil coisas e nada. Todas as possibilidades do mundo e nada. Agora nada.
Pelo meu bem, deveria optar pela clausura. 10 litros de água, alguns cigarros, gomas vermelhas e cadeados na porta. Uns livros, alguns filmes, internet cortada. Isso seria bom. Mas até agora, nada. Lenços de papel. É só a rinite que chegou com a primavera. Irônico um sábado tão bonito. Um sábado pra ir no parque, deitar no gramado e tocar violão. Um sábado assim. Um sábado de nada. Agora, de nada.

Comentários

Anônimo disse…
Sei que não é de muita valia, mas passa, mocinha. Passa sempre.
Carla Arend disse…
É. Até uva passa. :P