sutilezas

As crianças com as mãos manchadas de açúcar e suor tocavam nas obras do museu como eu, em pensamentos, engolia a tua pele nova. Havia um desespero em mim como se os vitrais do teto precisassem desabar sobre nós e sobre todos para silenciar aquela metade de manhã tão quente e imprópria. No escuro da primeira sala de projeção que entramos eu precisei gritar. Foi então que segurou firme nos meus ombros e me calou daquele jeito que pulsos foram perdendo as forças e os olhares se fecharam em sinergia de medo e prazer. Quando acordei, tarde da tarde, corpos brancos, cansados e estirados sobre o tapete vermelho, nenhum fósforo naquele quarto amplo e arejado, sorrimos um ao outro e fui embora.

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Eu vinha crente que não precisava mais disso. Disso: caneta, papel, calmante e pijama. Dancei muitas músicas e ri de mim mesma. Aquela que se repete. Eu. Eu mesma: corpo e cabeça cheia de cabelos. Meu cérebro está empapado, do tamanho de uma barata. Quando vou ao banheiro e olho-me no espelho. Quase acredito ser uma boa atriz. É tudo mentira! Um batom, um perfume e vestidos me levariam ao shopping. A um bar. A um beijo. O problema é que quero muitas coisas simples, então pareço exigente. O problema é que sou tola e carente, mas não me deixo enganar, se eu pudesse pedir um só pedido seria: pára! Pára esse carro em minha cabeça! Quero descer, estacionar, bater num poste. Não mais delirar, nem sentir no corpo esse seguir sem descanso, atrás de sutilezas que não podem ser descritas. (Fernanda Young)

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