Motta
Aos dezenove anos decidiu que se casaria com algum rapaz cujo sobrenome fosse Motta. Gostava de como ficava a sua caligrafia assinando dois tês. Motta lhe parecia um bom nome, estético, caricato, sonoro. Motta, Motta, repetia e assinava incansavelmente todos os dias. Namorou um Pedrozzo, um Aitta, um Pinello e acabou se apaixonando por um Costa. Pobre menina. Teve de abandoná-lo com a desculpa de ser portadora de uma doença dessas que a medicina não pode explicar, fatal. Costa se foi. A garota lamentou a partida, mas sabia que seria melhor assim. Chorou os três anos que se seguiram do rompimento e somou mais de quatro mil e duzentas publicações em um blog oculto, dissertando sobre as falácias do amor, sobre as injustiças da vida. Aos 32 anos, depois de ter feito todas as viagens que queria, degustado de todos os licores, vivido nos apartamentos mais divertidos, dormido com dezenas de homens com tês duplos, reencontrou Costa. Ou melhor, Costta. Foi fulminante, tiveram que ser um do outro ali, nos fundos do restaurante. Depois da euforia do reencontro, Costta a chamou de doente, disse que aquilo não se fazia com os sentimentos de um homem. Que sim, havia alterado o sobrenome por causa dela, mas que ela havia ignorado. Não era Motta, mas Costta, disse que havia se casado com um moça Motta, que agora tinha filhos Motta Costta. A mulher entrou em choque, o seu Costa, o seu Costinha agora tinha outra, e o pior, tinha outra que era tudo aquilo que ela queria ser: uma Motta. A mulher se calou. Não teve argumentos. O amava mais do que a qualquer outro, o amaria ainda que fosse um Santos, um Silva, um Cardoso. O amaria se fosse um Mota qualquer. Para sempre e agora só. Um traço imaculado em tê duplo sobre sua muito bem desenhada assinatura, fez dela uma busca constante...
Três semanas depois reencontrou Costta com o filho maior: Pedro Motta Costta, 10 anos. Sorriu.
Três semanas depois reencontrou Costta com o filho maior: Pedro Motta Costta, 10 anos. Sorriu.
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