Meu Primeiro Cortejo
Por volta das quatro da manhã, o motorista simpático do táxi executivo, tentando puxar assunto, pergunta: “Bah, tu viu que tragédia com aquele jornalista do Diário?”.
Eu, tentando descolar a cabeça do vidro traseiro, respondo: “Vi, estou voltando do churrasco de despedida dele”. Silêncio.
E foi-se. Talvez o dia mais triste da minha vida. Não tenho certeza. Sei que foi o meu primeiro cortejo. Minha primeira vez de querer acreditar que o mundo não termina com a morte. É muito injusto.
Um pouco menor que o número de amigos aplaudindo depois do último tijolo cimentado (com direito à percussão de pranto) era o número de viúvas. Chegou a ser engraçado. Mãe, pelo menos, só eu (eu – nossa senhora). Prenda, só a Fran. E dessas discussões sobre quem tinha mais importância pro moço, a gente riu e conseguiu “desestufar” o peito com brindes, fumaças e música tradicionalista – que nunca foi meu chão, mas ta, uma noite a gente agüenta.
Pensei que iria dormir o dia inteiro hoje, mas as gaitas, aplausos e poesias violaram a tentativa de sonho que armazenei no travesseiro. Azar. Levantar e trabalhar. Ser o mais legal possível com as pessoas. Pisar firme e sentir o tempo. Deixar acontecer sem esperar que seja magnífico. Simples assim a vida tem que seguir.
Notas mentais: conhecer a minha alma, mandá-la a encontrar a dele e cagar de pau.
Comentários
Muito bacana seu Blog, seja bem vinda.
Viver intensamente...só isso....